Mamãe, brinca comigo!
"Mamãe, brinca comigo!
Mamãe, por que você precisa trabalhar?"
Eu passei anos escutando essa frase, enquanto trabalhava no escritório de casa. Eu queria conciliar trabalho e maternidade, e pra isso, escolhi ser uma profissional autônoma e fazer home office. Mas a cada vez que eu era interpelada por ele com um brinquedo na mão e os olhinhos brilhando, a culpa tomava conta de mim.
Foi muito sofrido dizer não algumas vezes. Também era sofrido largar o planejamento da aula ou o texto pra postagem de divulgação. Eu queria oferecer a ele companhia, queria que ele soubesse o quanto eu me importava com ele e com o desejo dele de brincar e de me ter por perto. Ao mesmo tempo eu queria me concentrar no trabalho, produzir e voltar a ter uma carreira profissional.
Mas sei muito bem que esse sofrimento não é só meu. Talvez você que está lendo esse texto tenha passado por algo assim. Muitas mães passam, independente da escolha que tenha feito: home office, freela, CLT, creche, casa da vó… Pra uma mulher, conciliar trabalho e maternidade é um desafio gigante: talvez um dos maiores, na nossa sociedade. Mas isso não é da natureza das mães.
Essa é uma consequência do modo como nossa sociedade de organiza:
- o que define como papel da mulher/do homem (sim, estamos falando de sexismo),
- o que define como trabalho (aqui tem toda uma discussão sobre a invisibilização sobre o trabalho de cuidado),
- e inclusive o que define como maternidade ou parentalidade (de quem é a responsabilidade por cuidar das crianças e adolescentes).
Essas são perguntas que nos levam a perceber que o pensamento hegemônico na nossa cultura afirma que:
- cuidar das crianças é papel dos pais (aqui falo de pais e mães, em oposição a uma responsabilidade coletiva ou social), mas na prática recai sobre as mães. Ah, se eu tivesse uma aldeia…
- as tarefas de cuidado não são reconhecidas como trabalho e quando são, são extremamente desvalorizadas
Tá, entendi. Mas o que eu faço com isso, além de chorar? Primeiro eu quero te (me) convidar a dar espaço a essa frustração, tristeza e talvez até mesmo raiva que aparece por aí ao pensar ou viver essas coisas. Segundo, eu quero te contar que não existe solução definitiva nem uma saída individual.
A transformação dessa situação envolve ao mesmo tempo cuidar dessa dor que aparece aí no seu (meu) peito, mexer nas relações com as pessoas ao nosso redor (o pai, a família, os amigos e inclusive nossas crianças e adolescentes) e transformar as estruturas sociais que estão definindo como as coisas funcionam.
Eu tenho encontrado na Comunicação Não Violenta (além das outras abordagens que trago na minha bagagem, como a Psicologia Histórico-cultural, a Abordagem Centrada na Pessoa, a Biodança e a Educação Biocêntrica) um caminho pra fazer tudo isso ao mesmo tempo, e tenho compartilhado isso com outras pessoas através da Aldeia CNV. Se quiser saber mais, clica aqui.