Pedidos x Exigências: como acontece na escola?

 

 

Vocês já devem ter ouvido falar sobre um conceito central da Comunicação Não Violenta que é o de exigência. Pra quem não sabe o que é, vou explicar brevemente:


Marshall Rosenberg, o criador da Comunicação Não Violenta, apresentou uma série de distinções pra explicar o que ele considerava uma oposição entre paradigmas.

Na educação, ele nomeou esses paradigmas como Educação para a Dominação e Educação que serve à Vida - esse aliás bem próximo da forma como os educadores cearenses Ruth Cavalcante e Cezar Wagner nomearam sua proposta: Educação Biocêntrica.


Uma dessas distinções foi entre Pedido e Exigência. Em síntese:

- um pedido é uma expressão que conta ao outro de que modo ele PODERIA CONTRIBUIR pra satisfazer alguma(s) necessidade(s) minha.


- a exigência é uma expressão que parte da ideia de que o outro TEM QUE satisfazer uma (ou mais) necessidade minha.

Como essa distinção se concretiza no cotidiano escolar? Vou dar um exemplo:
Uma aluna disse para o professor:

"Professor, nós precisamos de alguma referência pra conseguir fazer essa tarefa."

E o professor respondeu:

"Vocês não podem depender de referências pra conseguir fazer isso."


Outro exemplo:
Três alunos foram até a professora e disseram:

"Professora, assim não dá. Você tem que tirar o Júlio do nosso grupo. Ele atrapalha demais!"

E a professora respondeu:

"Vocês tem que aprender a conviver com a diferença. Voltem para o grupo e terminem o trabalho."


Os dois casos são muito emblemáticos porque, em ambos, os alunos já estavam informando aos professores que precisavam de apoio ou de recursos para fazer o que foi orientado. E infelizmente esses professores não tinham, eles mesmos, os recursos necessários para compreender o pedido dos alunos. E responderam com exigências, ou seja, dizendo que eles tinham que executar as tarefas.


Vocês acham que esses alunos conseguiram fazer o que o professor orientou?
Quero contar que não.
No segundo caso inclusive, que se tratava de um conflito, a situação escalou e se complicou ainda mais.


O que fazer então? Qual a saída pra esse tipo de situação?

Antes de tudo, tomar consciência. É preciso oferecer recursos aos professores pra que eles saibam diferenciar Pedidos de Exigências, pra que eles possam escutar os pedidos camuflados por trás das expressões (às vezes agressivas) dos alunos, e perceber quando o que eles estão querendo pedir pros seus alunos são na verdade exigências.


Em segundo lugar, é preciso apoiar os professores a desenvolverem relações de parceria com seus alunos, relações essas que se baseiam no diálogo, na compreensão e na responsabilidade por suas necessidades.

Isso vai permitir que se fortaleçam as relações de confiança necessárias para o desenvolvimento do aprendizado.