"Você não é macho o suficiente pra me bater"
O que faz um homem adulto, candidato a prefeito de uma cidade, dizer para outro que ele “não é homem suficiente pra bater” nele? E o que move o outro homem adulto, também candidato a prefeito, a jogar um banco na direção de seu colega de debate?
Você pode ter ficado indignada com esse homem que jogou o banco, afinal ele partiu pra violência física. Ou você pode estar se sentindo um pouco “de alma lavada” pelo seu gesto, porque você também se incomoda com as atitudes daquele que questionou a masculinidade do colega.Eu quero aqui propor um olhar um pouco mais distanciado (se for possível pra você agora) sobre essa situação.
Ameaças, acusações, críticas e julgamentos moralizantes do tipo “você não é homem suficiente” são, infelizmente, um comportamento comum numa sociedade marcada por valores baseados em certo x errado, vítima x vilão.
E mais ainda, no caso dos homens, educados por meio de pedagogias de gênero* que os moldam a uma masculinidade tóxica, seja ela hegemônica ou submissa, duvidar e pedir provas da masculinidade do outro é algo que permeia as interações entre eles desde crianças.
Por outro lado, reagir com violência também é algo permitido e ensinado aos homens. Lidar com a reatividade é desafio para todas as pessoas, mas voltar sua reação de forma violenta ao outro é algo próprio da educação dos meninos: “se chegar em casa tendo apanhado, apanha de novo!”.
Essa briga entre candidatos começou a muito tempo atrás. E era previsível.
Pelo olhar da Comunicação Não-violenta, essas são estratégias que foram aprendidas por eles (e por muitos outros) pra satisfazer as necessidades de pertencimento, valorização, aceitação, proteção…
E não, não estou dizendo que tudo bem eles fazerem isso. Pelo contrário: essas são estratégias aprendidas numa cultura de dominação que produz e reproduz violência.
E para transformá-la, talvez o melhor caminho seja reconhecer essas necessidades como legítimas, e apoiar as nossas crianças a encontrar formas diferentes de satisfazê-las. Ensinar a elas estratégias (comportamentos) que cuidem delas mesmas, ao mesmo tempo que respeitem o outro.
Isso é educar para a paz!
*conceito de Valeska Zanello @zanellovaleska