Luto por ela e por ele


Escrevo esse texto como forma de dar espaço ao LUTO tão presente aqui nesse momento.


Sinto a dor de imaginar que uma mulher negra sofreu assédio sexual por um homem negro. Sinto a dor de saber que um homem negro com uma trajetória tão preciosa na defesa dos direitos humanos foi exonerado do ministério. E ambas as dores são legítimas.

Se tomo partido, se escolho quem eu acho que está mentindo, invalido uma das minhas dores. E nego a uma dessas pessoas o reconhecimento da sua condição humana.

Talvez seja esse o grande desafio das pessoas em movimentos (negros, feministas, de esquerda…) nesse momento. Com os recursos que recebemos/aprendemos na nossa cultura, fica muito difícil ter uma visão ampla, complexa, que abranja ambas as humanidades, ambas as nossas dores.

Aprendemos a tomar partido, aprendemos que se alguém está falando a verdade, o outro (que fala o oposto) está mentindo. Aprendemos que uma pessoa acusada é culpada ou inocente; que se um é culpado, o outro é a vítima. E assim também funciona (hegemonicamente) o nosso sistema de justiça.

Uma sociedade organizada sobre o pensamento “culpado ou inocente”, vítima x vilão, vai sempre violentar as mesmas pessoas, parcelas minorizadas da população. E provavelmente nunca vai conseguir encontrar soluções que de fato cuidem das pessoas (todas as pessoas!), mantendo sua dignidade e reconhecendo sua humanidade para além dos atos que cometem, sejam eles violentos ou não.

PS.: se você leu esse texto e achou que estou “passando pano” pra alguém, saiba que eu reconheço a sua dor.