Não-violência primeiro consigo mesma


Eu conheci “ahimsa” (o conceito de não-violência) primeiro pelo corpo, nas práticas de Yoga. Isso foi bem antes de começar a estudar Comunicação Não-Violenta.

Diversas vezes eu escutei da minha querida mestra Solange Valle: “ahimsa primeiro com você mesma”. Ela estava falando sobre respeitar o próprio corpo durante os asanas.

Asana é a postura do Yoga, e seu significado também pode ser entendido como o equilíbrio entre firmeza e conforto. Esse equilíbrio (instável) permite que você consiga permanecer na postura, ao mesmo tempo que desafia seu corpo. E esse desafio é o que mantém a atenção focada, caminho para o objetivo real do Yoga: a meditação.

Sem desafio, ou seja, sem algum nível de desconforto, não tem meditação. Porém, se o desconforto for grande demais, temos o resultado inverso: violência contra nós mesmas/os.

Então, aprendi no Yoga e com o corpo, que precisamos exercitar a não-violência, antes de tudo, para com nós mesmas. O que é um desafio especialmente para mulheres, acostumadas que fomos a nos sacrificar em nome daqueles que amamos – não porque isso seja natural, mas porque assim fomos ensinadas (na nossa cultura, vale salientar).

E quando nos sacrificamos – somos violentas com a gente mesma em nome das necessidades dos outros – geramos um boleto, uma conta a ser paga: seja pelo outro, através de cobranças, comparações etc; seja por nós mesmas, através de várias formas de adoecimento físico e psíquico.

Então assim fui descobrindo que é impossível ser não-violenta com os outros se não for antes comigo mesma. Ou até é possível, por um tempo, mas insustentável a longo prazo, e de todo modo incoerente.

A Comunicação Não-violenta nos convida a exercitar a autoconexão e a autocompaixão como base de todas as outras práticas de conexão com o outro e de transformação social. Acolher e validar nossos próprios sentimentos, reconhecer e legitimar nossas necessidades, fazer escolhas pra cuidar de nós mesmas/os… Tudo isso é parte desse processo, que pode começar em cima do tapetinho… ou fora dele.