Tomada de consciência: recurso pedagógico ou sermão educado?

Em várias escolas que se propõem a utilizar pedagogias ditas alternativas, incluindo algumas referenciadas como construtivistas, tem sido utilizado um recurso para o estabelecimento de disciplina denominado Tomada de Consciência.

Funciona mais ou menos assim: se um aluno fez algo que foi considerado um ato de indisciplina, como por exemplo tomar o brinquedo de um colega, bater em uma outra criança ou desrespeitar o professor, uma figura de autoridade, que pode ser um(a) professor(a), coordenador(a) ou até mesmo o(a) psicólogo(a) escolar, conversa com essa criança ou adolescente, tentando fazê-la compreender que sua atitude está errada.

Algumas vezes, a criança é orientada a pedir desculpas ao colega ou professor. Esse recurso é também utilizado coletivamente, numa conversa com uma classe inteira, ou com um grupo de alunos.

A intenção, me parece, é das melhores: mostrar que aquela atitude prejudicou alguém ou até a ela mesma, e orientá-la para que ela não faça mais tal coisa. A ideia é ensinar as crianças a se comportarem de determinada forma, e promover a paz e harmonia no ambiente escolar.

Mas será que isso funciona? Os profissionais das escolas tem me contado que não.

É comum a reincidência, o que me faz perguntar: será que essa tomada de consciência foi efetiva? Será que, com essa conversa como ela tem se dado na escola, o aluno consegue de fato tomar consciência e se responsabilizar pelos impactos das suas ações? Ou será que ele recebe a fala da autoridade apenas como uma crítica ou julgamento moralizante?

Ou como me contou uma criança uma vez: ele me deu um sermão educado.

“Disse que não é legal bater nos coleguinhas, e que não ia ser legal ter que chamar meus pais, então era melhor a gente tentar resolver isso na escola mesmo. Sendo que eu nem bati em ninguém”
.

Mesmo com a intenção de ser cuidadoso, a fala desse professor foi recebida pela criança como uma ameaça e uma acusação injusta.

Esse discurso moralizante resulta em sentimentos como culpa e vergonha em quem o escuta, e muito provavelmente vai gerar respostas de defesa e fragilização da confiança.

A Comunicação Não Violenta propõe um caminho que me parece bastante eficiente para proporcionar uma efetiva tomada de consciência nessas situações. Em primeiro lugar, apoiar a criança ou adolescente que cometeu o ato de indisciplina a compreender a si mesma: como ela se sente e de que necessidades estava tentando cuidar quando fez o que fez?

Em seguida, apoiá-la a perceber os impactos de sua ação sobre os outros, podendo mesmo ser mediado um diálogo com as pessoas que foram prejudicadas por sua ação, onde elas possam expressar como se sentem e de que modo suas necessidades ficaram ameaçadas.

Por fim, apoiar a criança ou adolescente a encontrar outras ações e comportamentos que cuidem de suas necessidades, sem machucar ou prejudicar os outros.

Concentrar a atenção em sentimentos e necessidades permite que todos os envolvidos sejam compreendidos e considerados, e diferenciar os comportamentos das necessidades que eles estavam tentando atender permite encontrar soluções que cuidem de todos, evitando a estigmatização.

Quer levar a Comunicação Não Violenta como recurso para a Tomada de Consciência na sua escola? Nós podemos te apoiar!

Postagem publicada em parceria com o Instituto Zeza Weyne. Para saber mais, acesse o site do Instituto.