Paz positiva e Disciplina Restaurativa: caminhos de uma Educação para a Paz


A Educação para a Paz é um campo de conhecimento e prática que está ligado, em suas origens, ao discurso da Cultura de Paz compreendida como alternativa à guerra, tendo tido forte influência da Organização das Nações Unidas (ONU) desde o período pós Segunda Guerra.

Tal discurso, marcado pela espiritualidade, a abordagem holística e a ideia de valores humanos universais, segue a ideia de promoção de uma “paz espiritual” ou “harmonia interior”, que seria atingida através da autoconsciência e autoconhecimento e estimulada por determinados símbolos, como a cor branca e a pombinha da paz.

Podemos lembrar aqui das campanhas anuais realizadas em muitas escolas, com os alunos vestindo branco, fazendo caminhadas e cantando canções que evocam a paz. E também algumas iniciativas pontuais, às vezes até em caráter emergencial, quando algum evento trágico acontece no ambiente ou entorno escolar.

Porém, o que se percebe é que esses elementos e conceitos não tem sido eficientes como provocadores de mudança e não possuem um caráter prático na promoção efetiva da cultura de paz, apesar dos esforços empreendidos. Uma vez que a paz é compreendida como ausência da guerra, a alternativa à violência seria a repressão ou a culpabilização de alguns, não deixando espaço para a compreensão mais profunda sobre os problemas sociais e humanos na raiz das violências.

A concepção negativa da paz (Paz Negativa) está associada ao modelo de Disciplina Retributiva, e foca seus esforços em punir os considerados culpados, reprimir novos atos através de ameaças de punição e, em alguns casos, recompensar o bom comportamento. Tal visão limita o desenvolvimento de caminhos pedagógicos ou educacionais para lidar com a violência e, pelo contrário, seus modelos e mecanismos reproduzem a cultura de violência.

Como proposta de superação dessa visão, a concepção positiva da paz (Paz Positiva) compreende a paz numa perspectiva colaborativa, construída num esforço coletivo através de processos de escuta e diálogo, abertura às diferenças, respeito e solidariedade e que também reconhece as violências estruturais, além da violências diretas.

Nesse sentido, reconhece a co-responsablidade de todos na construção da paz - assumir-se como agente de paz e violências, manter-se vigilante sobre as próprias ações - e o conflito como um conceito chave na Educação para a Paz.

Podemos dizer que a concepção positiva da paz se aproxima do modelo de Disciplina Restaurativa, que busca compreender a complexidade dos fenômenos de violência e infração das normas, levando em conta as questões estruturais e buscando, além de reparar os danos causado às vítimas, responsabilizar o autor pelos seus atos, numa perspectiva pedagógica e restaurativa de sua humanidade e dignidade, e envolvendo também a comunidade como co-responsável tanto pelo problema como por sua solução.

Assim, a concepção de Paz Positiva oferece elementos pedagógicos concretos e dá fundamento à Educação para a Paz.


Nota: o texto foi elaborado com base no artigo Paz positiva, paz negativa e o conflito como elementos centrais na construção da Educação para a Paz, de Nei Loppes Filho e em sua fala em mesa redonda no XI Seminário de Cultura de Paz, Educação e Espiritualidade da UFC.

Postagem publicada em parceria com o Instituto Zeza Weyne. Para saber mais, acesse @institutozezaweyne