Entrevista para a Tribo Konekti

 

Entrevistas Tribo Konekti - a História da Carla Weyne

Carla Weyne é ex-aluna da Formação Konekti, psicóloga, professora de biodança, mãe do Benki, e tem como maior paixão na sua profissão facilitar grupos.

“Com dezoito anos tive a minha primeira experiência de facilitação de grupos. Lembro que fui facilitar um grupo no encontro estudantil e senti uma enorme felicidade! Sentia no meu corpo essa energia vibrando. E foi ali que eu soube que facilitar grupos era o que eu queria fazer na minha vida.”

O COMEÇO

Desde criança, Carla sabia que queria contribuir para a vida das pessoas, e escolheu a medicina como primeira opção ao ingressar na faculdade. No decorrer do curso percebeu que fazia mais sentido a psicologia, que era sua primeira opção. Na primeira semana de aula na Universidade Federal do Ceará, conheceu a psicologia comunitária através da apresentação dos grupos de extensão e pesquisa e compreendeu o que queria fazer: ser psicóloga comunitária e trabalhar com grupos.    

Carla conta que se tornou facilitadora de grupos atuando como psicóloga comunitária, onde trabalhou por muitos anos, além de atuar nas políticas públicas e no terceiro setor (ONGs), sempre nessa direção do desenvolvimento comunitário

Para Carla, o corpo sempre foi um instrumento de compreensão e expressão. Quando conheceu a biodança, através de um de seus mestres da faculdade, começou a participar e a facilitar grupos de biodança. Fez também uma formação em educação biocêntrica.

“Educação biocêntrica é educação  para além da escola. É uma proposta de pensar como as pessoas aprendem e se desenvolvem em todos os lugares: na família, no trabalho e na escola também. Tem a Biodança e a Educação dialógica de Paulo Freire como referenciais.”

A MATERNIDADE 

Carla conta que sua gravidez não foi exatamente planejada, mas foi uma escolha muito consciente e preciosa. Quando decidiu ser mãe, decidiu que faria o seu melhor.

Logo que engravidou, passou a fazer parte de grupos também para honrar e buscar apoio, porque a gravidez mudou completamente a sua vida. Queria ter um parto natural e se lembrou do quanto a conexão com a natureza foi importante ao longo de toda a sua vida, desde a infância no sítio dos avós, onde vivia nos pés de siriguela e agarrada com os carneirinhos.


Carla conta encantada que conseguiu ter seu parto natural, amamentou seu filho até os três anos e viveu o pós parto com muito apoio no seu maternar.

Seu encantamento foi tanto que resolveu trabalhar com apoio à maternidade, fez cursos e atuou profissionalmente, apoiando outras mães e criando seu próprio filho.

Embora se orgulhe da mãe que se tornou, Carla conta que enxerga com clareza os desafios. Comenta que precisa de muita autoempatia e rede de apoio e, constata que muitas vezes consegue se relacionar com o filho enxergando-o como um outro ser humano, que merece todo o respeito e consideração, ao mesmo tempo que consegue mostrar para ele que também quer ter essas necessidades atendidas. 

“Uma das coisas que me dá mais orgulho na minha vida é o meu maternar. Porque não é sobre a mãe que eu sou, é o meu processo de maternar. Ele conta dessa busca, desse movimento que está sempre em evolução”.

ENCONTRANDO A CNV

Carla participou de um grupo de mulheres que compartilhavam sobre a maternidade, que se apoiavam nos desafios, como o de usar fraldas de pano e de amamentar um bebê depois de um ano de idade, entre tantos outros. E nesse período conheceu o projeto chamado Famílias Educadoras, que pensam como educar seus filhos de uma forma diferente

Um dos apoiadores desse projeto era Dominic Barter. E foi ali que Carla ouviu falar pela primeira vez da Comunicação Não Violenta. Depois disso, passou a estudar o tema de forma autônoma e chegou a facilitar um grupo de estudo do livro “Como criar filhos compassivamente” do Marshall.

Em seguida fez um curso de um final de semana sobre facilitação de CNV e passou a aplicar esses conhecimentos nos trabalhos que realizava.

Passou a integrar o tema em seu grupo de Biodança, nas aulas que facilita nos cursos de Educação Biocêntrica e nas formações para profissionais de saúde, educadores ambientais, psicopedagogos e professores. E assim o trabalho com a Comunicação Não Violenta foi se tornando mais evidente.

A KONEKTI

Carla conta que encontrou a Konekti pesquisando sobre CNV na internet e seguindo a gente no instagram. E quando viu uma live da Ju falando que na Konekti a gente quer fazer CNV com o corpo todo, disse: “pronto!  É aqui que eu vou ficar! Porque o corpo sempre foi pra mim algo muito importante, algo muito central. Eu sempre fui atrás de uma psicologia que me ajudasse a pensar o ser humano por inteiro. Que não tivesse separado e não olhasse só para a subjetividade. E aí quando eu vi CNV, com o corpo inteiro eu disse, pronto, é isso que eu quero

A partir dessa live Carla ficou "paquerando" a Konekti, pensou em se inscrever na turma presencial, mas o deslocamento entre Fortaleza x Salvador seria muito oneroso, então quando a turma 5 foi lançada on line, em julho de 2020 ela decidiu que seria a melhor opção.

Carla ingressou na turma de formação e se identificou com o olhar da Konekti para a CNV, mergulhou na autotransformação proposta e também vislumbrou as possibilidades de atuação da CNV na esfera sistêmica. Isso conversava muito com toda a psicologia comunitária, com a biodança e com a educação biocêntrica, que tinham norteado seus trabalhos até aquele momento.

“A CNV e essas outras abordagens que eu já trago na minha caminhada têm algo em comum. Elas vêm desse mesmo lugar que eu poderia chamar de paradigma biocêntrico. Que não tá só na biodança. Por exemplo, se a gente olhar pro bem viver dos povos originários, essa visão tá lá.  Como o "nhande reko do povo guarani, que tem a dança, o corpo e a palavra como algo muito central. Como essa palavra que é a expressão da alma.”

Carla conta que o principal presente que a CNV trouxe para a vida dela foi a possibilidade de se relacionar melhor com as pessoas no seu dia a dia, inclusive nos momentos de conflito, conseguir reverenciar a vida no outro e em si mesma.

Se você perguntar para Carla o que mais a encanta na Comunicação Não Violenta, ela responde:  
“Cada grupo de CNV que eu facilito é pra mim, uma forma de contribuir com a transformação social. Acho maravilhoso no livro do Marshall, quando ele fala que a transformação social começa dentro de mim mesma, quando eu imagino e crio o mundo onde eu quero viver.  Isso é pra mim, o bem viver dos povos! Eu imagino o que é um lugar bom de viver e aí eu passo a viver de acordo com isso." 

"Quero seguir contando para as pessoas que tem um jeito de transformar o mundo. E, que podemos desaprender esses paradigmas de certo e errado, uns contra os outros. É isso que eu faço e  quero continuar fazendo ao longo da minha caminhada”, conta encantada.

 OBS.: entrevista publicada originalmente na Tribo Konekti, que foi encerrada em 2023.