Autodescoberta e transformação

 

Eu fico impressionada de ir descobrindo cada vez mais o quanto eu me tornei uma pessoa obediente e submissa ao longo da minha vida. E eu tive (e tenho) pais super legais, uma avó super pra frente, uma família amorosa e acolhedora.

Não é sobre famílias abusivas, é sobre uma cultura marcada pelo patriarcado e pelo autoritarismo – para além das outras desigualdades estruturais que marcam ainda mais pessoas negras, pobres, com deficiências etc. Crescer na nossa sociedade é violento porque crescemos em relações marcadas pelo poder de uns sobre os outros, em maior ou menor grau.

Então aprendemos a obedecer e nos submeter às ordens, a ponto de internalizarmos várias proibições e até mesmo punições. Ou aprendemos a viver sempre em pé de guerra, sempre reagindo e brigando pra defender nossa autonomia. Ou uma mistura dessas duas formas de nos proteger e cuidar de nós mesmas/os.

Fazemos isso no automático, e na maioria das vezes nem percebemos quanto estamos nos submetendo ou querendo dominar.

A Comunicação Não-violenta (além de outras práticas que trazem a experiência na não-violência para o corpo) é o caminho que vem me permitindo descobrir esses padrões de submissão e rebeldia que aprendi e continuo reproduzindo dentro das minhas relações até hoje. E me dando ferramentas para me transformar e apoiar a transformação de outras pessoas, grupos e instituições. Porque a mudança é ao mesmo tempo intra-pessoal, inter-pessoal e estrutural. Ou não há transformação real e sustentável.

E essa mudança só pode acontecer no encontro, com apoio para os mergulhos necessários, com acolhimento a todos os sentimentos desconfortáveis que surgem nesse processo de autodescoberta, com companhia pra celebrar cada conquista, cada novo passo na direção de mais autoconfiança e abertura ao outro.

Então tou escrevendo esse texto também pra celebrar: cada vez que consegui escutar o outro sem precisar me defender; cada vez que consegui dizer o que preciso sem deixar de enxergar o que o outro quer; cada vez que consegui compreender o outro sem sentir raiva; cada vez que consegui respeitar os meus limites sem sentir culpa…

E te convido também a sair do automático e descobrir se você também aprendeu a obedecer ou se rebelar. Com um olhar amoroso pra si, como todo processo de transformação precisa ser...