Quem apoia as crianças e adolescentes a lidarem com os conflitos na Escola?
Conflitos são parte de toda relação humana, em todos os espaços de convivência. Não é diferente no caso das escolas. Vale lembrar que a maior parte das pessoas que habita o ambiente escolar são “sujeitos em condição especial de desenvolvimento”, ou seja as crianças e adolescentes: indivíduos que ainda não tem todas as habilidades cognitivas e psicoemocionais que os adultos possuem. Portanto, pelo menos em teoria, precisam mais de apoio.
Então, quando as crianças e adolescentes vivem conflitos na escola, quem as apoia? Quem está disponível para ajudá-las a lidarem com as diferenças e discordâncias? Em geral, no cotidiano escolar, não há tempo para isso, pois tem muito conteúdo a ser “ensinado”. Essa é a realidade que tenho escutado da maioria das/os professoras/es com quem interajo nos cursos de CNV na escola e Disciplina Restaurativa. Angustiados, elas/es me dizem: não temos tempo!
Muitas/os gostariam de oferecer algo diferente, mas não tem esse recurso tão precioso: tempo de interromper a aula e oferecer um espaço de “resolução” de conflitos para as crianças e adolescentes.
Mas os impactos que elas sofreram naquela situação conflituosa não vão se dissipar como mágica. Os desconfortos ficarão guardados, esperando um momento para ressurgir, pedindo para serem vistos e cuidados. Se isso não for feito de forma consciente, com a mediação de adultos responsáveis, novos conflitos seguirão surgindo e tomando maiores proporções (escalada do conflito), podendo chegar a situações de violência.
Mas se sabemos que conflitos fazem parte de todas as relações, que portanto eles inevitavelmente aparecerão na escola, e não criamos intencionalmente espaços e recursos para lidar com eles, temos aqui uma tragédia anunciada. Nós já sabemos que teremos problemas!
Faz parte de um bom planejamento, em qualquer área, prever as possíveis dificuldades e nos anteciparmos a elas, propondo saídas. Precisamos então, deliberadamente, criar estratégias para que o conflito possa ser acolhido na escola, cuidado e de preferência aproveitado como parte do processo de aprender a conviver. Isso significa preparar professoras/es para identificar e compreender as situações de conflito, oferecer a elas/es ferramentas para escutar as crianças e adolescentes e mediar um diálogo que as leve a soluções que cuide de todos.
Também as próprias crianças e adolescentes podem aprender a fazer isso, e ainda há a possibilidade de criar núcleos dentro da escola voltados especificamente para essa função. Na prática, isso significa ganhar tempo!
Há muito a ser feito. O que não podemos mais é fechar os olhos para as situações cotidianas de violência que acontecem nas escolas, que se tornam desesperadoras quando chegam às manchetes dos jornais. Vamos agir antes que aconteça a próxima!