Vinícius na lagoa - parte 2
Tem muitas coisas que a gente pode refletir a partir da cena que eu contei na postagem anterior. Vou resumir a história aqui:
Vinícius*, uma criança de 3 a 4 anos, usando bóias de braço, estava nadando em direção ao fundo da lagoa. Algumas pessoas tentaram convencê-lo a ficar na parte rasa, mas ele insistia. Então uma mulher, que não sabemos se é sua mãe – vamos chamá-la de Marta, falou:
“Olha, Vinícius, aí no fundo tem jacaré, viu? Os meninos não tão indo praí porque eles tem MEDO. Se você for, o jacaré vai pegar você, hein!”
Como você pode imaginar, Vinícius voltou. Aparentemente, a estratégia da Marta funcionou.
Então qual o problema dela ter dito isso?
Quando a Marta usa esse tipo de estratégia pra educar (ou mesmo proteger) o Vinícius, ela transfere sua autoridade para algo externo: o jacaré. Se alguém disser pro Vinícius que não tem jacaré na lagoa, provavelmente ele vai voltar a nadar pro fundo. Ou vai ficar confuso, sem saber em quem acreditar.
Essa é uma outra consequência desse tipo de estratégia pra educar: ela fragiliza a confiança da criança no adulto.
O Vinícius pode ter pensado: “Mas que estranho, porque então tem pessoas (adultas!) nadando na parte funda da lagoa? O jacaré não vai pegar elas?”
A experiência dele não corresponde ao que ele está ouvindo: tem jacaré na lagoa. Isso tem uma consequência talvez mais complicada: o Vinícius possivelmente também passou a confiar um pouquinho menos nele mesmo.
Alguém aqui tá querendo desenvolver a própria autoconfiança?
Porque sabotamos a autoconfiança das crianças?
“Ah, mas a Marta tava preocupada que o menino se afogasse! Ela é responsável por ele, tem que proteger a criança!” - bora continuar essa conversa na próxima postagem...
* nome fictício