Dica de filme: Somos todos iguais


 
Somos todos iguais é um filme baseado em uma história real, a história do encontro entre Deborah, Ronald e Denver.

O filme inicia com Ronald se mudando para a casa de um amigo, onde pretende escrever um livro – que de fato foi lançado e virou best seller do New York Times. Dois anos antes, sua esposa Deborah havia descoberto que ele tinha uma relação extraconjugal. Depois de uma discussão, ela decide dar uma chance ao casamento, mas como ele mesmo conta: “iria fazê-lo pagar com as próprias mãos”.

Aos poucos ela vai inserindo Ron em sua rotina de trabalho voluntário em um centro de apoio para pessoas em situação de rua. O que inicia como um castigo, vai transformando a vida de ambos, das pessoas atendidas e mais ainda, a rua e o bairro onde o centro está localizado.

É nesse contexto que Ron e Debbie conhecem Suicide, um homem aparentemente agressivo que se revela extremamente machucado pela vida. O filme passa a intercalar cenas do processo de escrita de Ron, da relação entre os 3 e da história de vida de Denver (seu nome de registro). Nessa relação, todos vão se humanizando.

O filme nos convida, em vários momentos, a desconstruir o rótulo “desabrigados”, quando alguns dos personagens revelam histórias de vida que poderiam ser a minha ou a sua. Como conta um homem enquanto recebe a comida servida por Ron e Debbie: “Sei que pensam que são melhores que nós, mas se você perder o emprego e sua mulher chutar você pra fora de casa, será um desabrigado exatamente como nós”.

Já a vida de Denver é marcada pela violência estrutural: na ausência da mãe, ele e seu irmão são criados pela avó, mas é o menino quem cuida dela muitas vezes. Mais tarde, passa a trabalhar em condições análogas à escravidão, e sua juventude é marcada pela discriminação racial, injustiça e violência. A história de Denver nos lembra que o acesso à satisfação de necessidades é distribuído desigualmente em nossa sociedade, e isso tem reflexo sobre todos nós.

Talvez seja essa percepção que move Debbie em seu trabalho voluntário no centro de acolhimento: ela reconhece seus privilégios e os coloca a serviço da transformação daquela rua, daquele bairro. E nesse processo, ela mesma e seu marido vão se transformando.

Ao longo do filme, os personagens vão reconhecendo e revelando as necessidades comuns a todos: não só de abrigo e alimento, mas ser visto, se divertir, ser amado, pertencer... “Somos todos iguais” revela nossa humanidade compartilhada.