Como eu cheguei na CNV - parte 2

 


A Comunicação Não Violenta foi uma consequência natural da criação com apego. Eu descobri a CNV em um vídeo do Dominic Barter no programa Famílias Educadoras. Meu anseio era por um jeito de continuar criando meu filho com respeito à sua identidade, mesmo agora que ele dizia não, fazia birra, jogava os brinquedos no chão – não um, mas todos os brinquedos de todas as prateleiras, e não queria ficar na escola. Ouvia meu irmão Caco, que já trabalhava com direito da criança e do adolescente e justiça restaurativa, falar sobre a CNV e me inspirava. Foi só depois de alguns anos que eu tive acesso ao seu primeiro livro traduzido no Brasil (isso, aquele da capa vermelha e amarela).

Logo na primeira página me surpreendi ao ler: “nossa natureza é gostar de dar e receber de forma compassiva”. Opa! Esse cara tá falando que isso é algo natural? Devorei o livro e fiz todos os exercícios – ia tentando botar em prática as tais técnicas para melhorar relacionamentos pessoais e profissionais. Só depois eu descobri que o subtítulo original desse livro em inglês é: “a language of life”, uma linguagem da vida. Agora tudo fazia sentido: era o mais natural possível que eu procurava. Uma abordagem que falava da Vida, que colocava a vida no centro.

Agora eu tinha mais ferramentas pra saber como ouvir meu filho (e também as outras pessoas): tentar escutar, por trás de suas palavras e gestos, os seus sentimentos e necessidades. Uau, que maravilha! Mas não bastava saber. Descobri que, por mais que eu quisesse e acreditasse nessa forma de me relacionar com ele, tinha décadas de aprendizado entranhado em mim sobre como julgar, avaliar e comparar uma criança. Eu precisava mergulhar em mim mesma, aprofundar minha própria investigação, pra poder abrir espaço pra escutá-lo, mesmo quando as escolhas dele estavam em desacordo com minhas necessidades.

E foi assim que fui me entregando mais e mais à CNV: cursos, livros, formação, grupo de prática, workshops, grupo de aprofundamento, mais livros, e principalmente minha prática pessoal, diária, cheia de tentativas, “erros” e muito aprendizado. Mas acho que minha principal fonte de aprendizado ainda é me relacionar com meu filho. Por isso digo que ele é meu mestre de CNV.

Hoje, escolho compartilhar Comunicação Não Violenta, facilitando grupos, cursos e encontros. Tenho encontrado outras ferramentas que se afinam com ela, como os Círculos de Construção de paz, além de integrar aquelas que eu já trazia comigo, como a Biodança e a Educação Biocêntrica. E continuo me dedicando, mesmo com todos os tropeços e desafios, a cuidar do Benki com esse olhar pra sua humanidade. Afinal, foi onde tudo começou!