Como eu cheguei na CNV - parte 1
Eu sempre amei a natureza, desde criança. Minhas melhores lembranças da infância são do sítio dos meus avós, onde eu passava horas “trepada” nos pés de siriguela, ou brincando de comidinha com as folhas das pitangueiras. Lá eu era acordada de madrugada pelo meu avô pra tomar leite mugido, e me dedicava a oferecer, por cima da cerca, folhas de torém pros carneiros do sítio vizinho. Lembro que eles amavam – e eu amava mais ainda a generosidade deles ao virem receber meu presente.
Na juventude, sempre amei passeios e viagens pra lugares perto da natureza. Sítios, acampamentos, trilhas, cachoeiras… eram sempre onde eu me sentia mais livre, mais eu. Comecei a praticar e depois a estudar Biodança, uma abordagem que me colocava em contato direto com a natureza em mim, no meu corpo. Quando me formei, morei em um apartamento no interior do Ceará, mas não larguei meus jarros de babosa, cúrcuma e chambá. Estudei fitoterapia, permacultura, bioconstrução, e ia aos poucos aplicando esses saberes no meu cotidiano, dentro das minhas limitações.
Então, quando engravidei, minha primeira busca na internet foi: parto natural. Tive um parto hospitalar, sem intervenções – sem analgesia, sem pique (episiotomia ou corte no períneo), sem injeção de força (ocitocina). Passei umas duas horas num colchão no chão, em posição de quatro apoios, dando tempo pro meu bebê girar dentro da minha pelve. E pari sentada numa banqueta, com minha amiga Bárbara me apoiando pelas costas e minha comadre Érica de olho no meu filhote.
Desde a gravidez, comecei minha opção pelo “mais natural possível”. Possível pra mim, claro. E assim optei por amamentar em livre demanda, não usar chupeta nem mamadeira, usar fraldas de pano e ficar com meu filho coladinho em mim, o máximo de tempo possível. Tudo isso era muito instintivo, ao mesmo tempo que era muito contra-hegemônico. Como boa questionadora que eu sou, gostava muito de estudar e pesquisar sobre esses temas. Não à toa acabei indo trabalhar com apoio à maternidade: facilitei cursos e grupos de preparação para o parto, de apoio ao pós parto e à amamentação, usando a Biodança e a Educação Biocêntrica.
Estudando e trocando experiências com outras mulheres, companheiras de grupo de apoio ao parto humanizado com quem me juntei em um grupo de apoio e convivência (algumas das quais se tornaram amigas preciosas), descobri a Criação com Apego: uma proposta de maternar nossos filhos inspirada da Teoria do Apego, do psicólogo John Bolby, que eu tinha estudado brevemente na faculdade. Em síntese, ela afirma que dar colo não estraga, muito pelo contrário, possibilita que a criança construa sua segurança interna ao longo do seu desenvolvimento.
A Criação com Apego dava fundamento pra muito do que eu acreditava e estava escolhendo como o jeito de cuidar do meu filho: carregá-lo no sling (ou tipóia), amamentá-lo mesmo depois de um ano, deixá-lo dormir na cama comigo (prática também chamada de cama compartilhada ou co-sleeping ou colecho), não deixá-lo chorando, ouví-lo ao tomar as minhas decisões. Ouvir um bebê? Sim! Bebês não falam, mas se comunicam de muitas formas.
Eu costumava falar com ele, desde os primeiros dias. Mas mais importante era mesmo ouví-lo. Então eu buscava perceber suas expressões faciais, seus gestos, seu choro, seus balbucios, e ao longo do tempo suas palavras e frases. E levar isso em conta pra decidir se era hora de oferecer mais uma colherada de comida ou não, se ele queria continuar brincando, e vez de ir tomar banho, se estava com sono, se queria caminhar ou precisava de colo.
A Comunicação Não Violenta foi uma consequência natural da criação com apego.
Continua...