Empatia para a natureza
“A empatia não pode ser só com os seres humanos, tem que ser também com toda a natureza” (Leonardo Boff)
Não tou aqui pra falar de certo e errado (sai pra lá, paradigma da dominação!), nem pra dizer que você TEM QUE parar de comer carne, usar carro ou tomar banho de chuveiro quente (eu inclusive faço essas coisas também). Não quero dizer que "o que você faz não é suficiente". Aliás, o que estamos tentando fazer já é tão desafiador, né?!
O que eu quero nesse texto é compartilhar contigo uma reflexão inspirada nessa frase do Leonardo Boff, que foi dita no contexto de uma fala sobre a pandemia e o que ela representa para nosso mundo (humano) e nosso planeta. Ele refletia sobre o poder destrutivo do sistema capitalista, e como ele está na raiz de inúmeros problemas ambientais e sociais de hoje. E ressaltava o poder da empatia e da solidariedade para nos salvar, nesse momento em que vivemos uma situação limite enquanto humanidade.
A Comunicação Não Violenta foca suas ferramentas nas relações entre humanos, mas ela não considera apenas o plano interpessoal. Falamos também do nível intrapessoal, que segundo Marshall Rosenberg é onde começa uma transformação social sustentável. E ainda do plano sistêmico, que inclui as estruturas de poder, que ele também chama de gangues. E pra falar de sistemas, não podemos perder de vista as outras espécies não humanas, os rios, os mangues, as florestas... o planeta.
Como Ailton Krenak e seu povo – e muitos outros povos originários – nos ensinam ao chamar a montanha de avô, toda a natureza é viva, e convivemos com tudo o que está sobre a Terra. Pra nós que crescemos em uma cultura que objetifica tudo o que pode virar “matéria-prima” e “recurso”, pode ser muito estranho chamar uma árvore de irmã, a lua de avó, ou a natureza de Mãe. Mas podemos num exercício imaginativo, tentar adivinhar seus sentimentos e necessidades.
Marshall conta que a primeiríssima coisa necessária pra praticar CNV é a clareza espiritual que vem da pergunta: como eu quero me conectar com as outras pessoas? E não é sobre escolher entre me conectar ou não. Mas sim de decidir que qualidade eu quero dar a essa conexão, que é pré-existente e irrefutável, uma vez que todos fazemos parte de uma grandiosa teia de relações.
Vou tomar a liberdade de ir um pouco mais além, inspirada em Marshall, Leonardo, Ailton e outros sábios. Pra encarnar os princípios de não-violência ou de bem-viver, vou ampliar um pouquinho a pergunta: Como quero me conectar com a natureza, com o planeta? Que qualidade eu quero dar a essa conexão, que já existe desde que me anunciei no mundo como feto no ventre de alguém.
Então eu te convido a esse exercício: uma escuta empática da natureza. Pode começar com uma plantinha do teu jardim: será que ela está feliz aqui? Será que ela precisa de mais sol? Menos água? E aos poucos ir buscando essa conexão com a Natureza no sentido mais amplo, a partir da empatia, e quem sabe da autenticidade. Sem cobrança e sem exigência, te convido, e também me proponho, a esse exercício cotidiano: ampliar a empatia para além dos humanos e vivenciar a escuta da natureza – que também habita em ti.