Se precisar, toca o búzio!

Desde de criança eu ouvia meu avô dizer: “Se precisar, toca o búzio!”. Não lembro quando foi que eu entendi essa expressão, talvez eu tenha perguntado a ele o significado. Mas me surpreendi ao descobrir que quase não existe registro sobre essa tradição na internet.

Um dos poucos que encontrei diz assim:

“O búzio é frequentemente utilizado pelo povo português para, através do sopro para o seu interior, produzir um som cavo mas agudo e potente, que serve ao chamamento de reuniões ou ajuntamentos colectivos, como o conselho dos vizinhos, a assembleia dos velhos da aldeia, os ranchos da azeitona, ou doutros trabalhos agrícolas (…) 

 Dada a sua natureza, começou certamente por ser um meio de aviso ou comunicação marítima, mas estendeu-se para terras do interior, tais como Trás-os-Montes, Alentejo e Beira Baixa…” (Fonte: https://terramater.pt/buzio/)

Até 2 anos atrás, quando meu avô faleceu, todas as vezes que a gente ia se despedir, ele dizia: “Qualquer coisa, toca o búzio”. Quando eu escutava isso, além de achar muito poético, eu me sentia tão segura! Era como saber que com um simples chamado, eu poderia contar com apoio. A presença dele ficava ali comigo, e eu poderia recorrer a ele a qualquer instante.

Hoje ainda sinto ele comigo – de verdade, e principalmente quando eu como atum enlatado refogado com tomate, cebola e pimentão. Rsrs.

Eu também tenho búzios de vários tamanhos espalhados pela casa. Todos os meus altares tem um búzio no centro. Essa concha que se enrola em espiral se tornou um símbolo importante pra mim. Representa a vida que evolui aos saltos, a espiral da evolução. E também a possibilidade de chamar, de reunir a comunidade ou pedir ajuda.

Eu adotei essa expressão pra mim, e quando quero dizer a alguém que eu tou disponível, repito as palavras que aprendi com meu avô. Então a partir de agora, se você me ouvir dizendo isso, já sabe. E quero cada vez mais reunir pessoas e fortalecer essa comunidade que tá disponível pra chegar junto quando ouvir um búzio tocar. Bora?

Imagem: meloteca.com