"Não violência" não é o oposto de violência


Tem um outro ruído comum relacionado à Comunicação Não Violenta que eu acho que em parte é uma questão de tradução. Não do inglês pro português, mas do sânscrito pro inglês. Sânscrito? E existe essa língua? Rsrsrs. Sim, e é de onde vem a palavra “ahimsa”, traduzida pro inglês como “non violence” e dele pro português como “não violência”.

Mas vamos dar uns passinhos atrás… Muitas pessoas acham estranho que essa proposta tenha esse nome: Comunicação Não Violenta. Já ouvi de vááárias pessoas: mas porque um nome no negativo? Por que não algo propositivo? Então muitas pessoas compreenderam que não violência é o oposto de violência. E que portanto, Comunicação Não Violenta é o contrário de uma “comunicação violenta”.

E eu super compreendo, porque esse é o modelo mental onde nascemos, crescemos e aprendemos a pensar: um modelo binário, feito de opostos. Bem e mal, justo e injusto, certo e errado... Portanto, parece óbvio que não violência seja o oposto de violência. Mas essa palavrinha tem um sentido muuuuito mais profundo. E é lá no sânscrito e nas tradições espirituais da Índia e afins que a gente vai encontrar essa explicação.

Ahimsa ao pé da letra realmente significa ‘não violência’: a partícula ‘a’ é de negação, e ‘himsa’ significa causar dano. Mas olhando um pouco melhor essa palavra, que nomeia um princípio ético de várias tradições, como o Yoga e o Budismo (lembra que Gandhi foi uma inspiração pro Marshall Rosenberg?), descobrimos que ela se refere a algo bem mais complexo e profundo. “Não violência” significa também:

- compaixão por todos os seres

- potencial desencadeado quando superamos ou transcendemos a vontade de ferir o outro

- um coração tão aberto que não conhece inimigos

Segundo Dominic Barter, uma fonte de inspiração importante pra mim, “a não violência tem uma natureza totalmente distinta tanto da violência quanto da passividade. Ela responde a partir de um reconhecimento de que eu faço parte. A interdependência é um fato da minha existência social e ecológica também. Eu faço parte de uma teia de vida. (…) Não violência é eu assumir isso e isso servir de fonte praquilo que eu faço”.

E aí, clareou as coisas por aí? Conta pra mim como essas ideias ressoam pra você!