Dica de filme: "O Som do Silêncio"
“O som do silêncio” (Sound of Metal) é um filme sobre perdas. Luto. Um baterista de uma banda de heavy metal está perdendo a audição. E junto com ela, Ruben (esse é seu nome) vai perdendo a vida que tinha. Sua companheira Lou também se vê sem namorado, sem banda, sem casa, sem família.
Em meio ao desespero, e não sem uma dose de indecisão, o rapaz procura uma comunidade de surdos. É seu líder Joe quem diz uma das frases que mais me marcou no filme: “Estamos aqui para dar um jeito nisso (apontando para a cabeça), não nisso (apontando para as orelhas).” Eu poderia dizer (sem dar spoiler, heheh) que essa frase é uma síntese do filme.
“O som do silêncio” começa bem “barulhento” – assim pareceu aos meus ouvidos, que nunca foram adeptos do rock “pesado”. E depois de alguns minutos, ao mergulhar no universo dos surdos, o filme se torna poeticamente silencioso. Ruben é convidado por Joe e sua comunidade a renascer, a recriar-se como essa nova pessoa que agora não escuta mais, e descobrir seus potenciais, reinventar-se.
Nos processos de luto, algumas vezes as pessoas podem tentar lutar contra o que está acontecendo (os estudiosos chamam de “fase da negação”), e tentar recuperar o que foi ou está sendo perdido. Por outro lado, pra cuidar do luto é preciso dar espaço para a tristeza, para a dor que surge ao encarar que algo está morrendo: a capacidade de ouvir, uma carreira, um relacionamento... E essa vivência pode ser cheia de idas e vindas, avanços e retrocessos, em que estão em jogo necessidades como conexão, pertencimento e valorização. (Se você for assistir o filme depois de ler essa partilha, sugiro que faça o exercício de perceber as estratégias que Joe vai escolhendo ao longo da história pra cuidar dessas necessidades).
Viver o luto é também despedir-se, e esse processo aparece no filme de um modo sutil, mas com muita beleza – assim pareceu aos meus olhos. Desfazer-se do que não serve mais (ou do que não está mais servindo à vida) pode ser algo desafiador, às vezes. Ao mesmo tempo que pode trazer mais leveza e tranquilidade pra seguir na jornada que mudou de rumo inesperadamente.
Esse filme me tocou bastante, e fiquei feliz de compartilhar com vocês um pouco de como ele ressoou pra mim. Se fizer sentido pra ti, compartilha comigo também como ele ressoou pra você. Um abraço! (essa é exatamente minha vontade agora: dar um abraço em vocês)