CNV na prática: a raiva e as explosões
A Comunicação Não Violenta mudou completamente minha concepção sobre a raiva. Antes, eu achava que sentir raiva era uma coisa feia, coisa de quem não era evoluído o suficiente pra lidar com as situações com maturidade e resolver tudo com calma e serenidade. Bem, Marshall Rosenberg me ensinou que a raiva pode ser uma excelente aliada em nossa aprendizagem da Linguagem da Vida. E ontem, Benki e eu tivemos a oportunidade de aprender um pouco mais sobre essa ideia.
Tudo começou de manhã, quando ele estava esquentando seu pãozinho pra tomar café. Ele girou o botão do fogão e demorou alguns segundos, deixando escapar um pouco de gás antes de apertar o botão acendedor – nosso fogão é daqueles com acendimento elétrico. E a chama acendeu de uma vez, causando o que ele chamou de explosão – fiquem tranquilos, foi uma bem pequena explosão. Mas ele levou um baita susto!
Bem, o dia se passou... De noite ele me fez uma pergunta, e eu dei uma resposta em tom de brincadeira. Ele ficou com muita raiva, fechou a cara e deitou em silêncio na rede. Depois de um tempo, ele me disse que estava com raiva de mim, porque eu não havia “levado ele a sério”. Fiz então um processo de empatia com ele, e ajudei-o a entender qual era a necessidade que estava viva naquele momento. E ele disse: “entendi, mamãe. Mas ainda estou com raiva de você. De onde é que vem essa raiva?”.
Foi então que me veio uma inspiração e eu falei algo pra ele que vou compartilhar com vocês: a raiva é como aquela explosão que aconteceu de manhã! A faísca que aparece quando apertamos o botãozinho acendedor é o que a outra pessoa fez (o estímulo), mas a origem da raiva é o gás que sai quando você gira o botão dos pensamentos julgadores. Quanto mais gás deixamos escapar, maior a explosão – mesmo que apertemos o botão do acendedor bem rápido, fazendo uma faísca muito pequena. Quanto mais alimentamos pensamentos que são julgamentos ou avaliações da outra pessoa, mais raiva sentimos, com qualquer pequena faísca, qualquer simples atitude de outra pessoa que esteja em desacordo com nossas Necessidades.
Mas essa explosão é um alerta importante pra nós! Ela nos lembra que deixamos o botão dos julgamentos aberto, vazando pensamentos que classificam as pessoas em boas ou más, certas ou erradas. E enquanto estamos focadas/os em julgar o outro (ou a nós mesmas/os), deixamos de prestar atenção nas nossas Necessidades – e temos menos chance de cuidar delas. Por isso, Marshall Rosenberg fala que a raiva tem um propósito surpreendente: o de servir como alerta de estamos desconectadas/os de nossas Necessidades.
E você, já pensou de onde vem sua raiva?