Páscoa em quarentena


Mulher tem isso de viver a Páscoa todo mês. Certo, nem todas as mulheres. Mas as que sangram, tem essa desafiadora oportunidade de morrer e renascer umas 12 ou 13 vezes por ano. Nos meus rituais mensais, eu me despeço do que não serve mais em mim mesma, e busco renovar o compromisso com o que vale a pena.

Nessa Páscoa em quarentena, tenho me perguntado: do que precisamos nos desfazer, nos despedir, enquanto sociedade, enquanto cultura? A Natureza tem nos dado pistas, com céus azuis, canais e rios límpidos, golfinhos saltando perto da praia, tartaruguinhas livres pra chegar ao mar, montanhas escondidas por décadas se revelando a quilômetros de distância...

É essa mesma Natureza, dentro de nós, que pode nos revelar o que precisamos deixar pra trás, e o que é mesmo essencial. Como deixamos de conversar com Ela, pedir seus conselhos, talvez a gente demore um pouco pra conseguir ouví-la, ou percebê-la... em nossa pele, nossos olhos, em nossa respiração. Apesar de habitar em nós, nossa conexão com Ela foi enfraquecida pelo nosso jeito de viver.

Então talvez a gente precise antes se despir de pré-conceitos, de concepções - sobre o que é a vida, o que é felicidade, o que é ser humano, sobre quem somos nós - tão arraigadas que parecem óbvias. Como diz Gilberto Gil, "se eu quiser falar com Deus, tenho que ter mãos vazias, ter a alma e o corpo nus".

Desejo a você, nessa Páscoa, uma profunda conexão com a Natureza, nossa Mãe. Que ela te revele o que precisa morrer e o que deve renascer nesse momento da sua e da nossa história!